quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Nova espécie de peixe é descoberta no Rio Grande do Sul

Eles ocorrem em ilhas de água, em pequenas poças d'água ou charcos banhados.
Pesquisadores brasileiros catalogaram nova espécie de peixe da família Rivulidae, na bacia do Rio Camaquã, no município de Encruzilhada do Sul (RS), que já surge “criticamente ameaçada de extinção”, afirmou na última quarta (19) o coordenador do Instituto Pró-Pampa (IPPampa), Matheus Volcan, responsável pela pesquisa.

A nova espécie (Austrolebias bagual) faz parte do grupo de peixes com distribuição bastante restrita. “Eles ocorrem em ilhas de água, em pequenas poças d'água ou charcos banhados, como a gente chama aqui no Sul, isolados por terra. Esses ambientes são, em geral, muito pequenos e isolados. O isolamento faz com que ocorra um grau muito alto de especiação desse peixe”.

Volcan informou que em cada bacia hidrográfica se encontra uma espécie diferente. “São ambientes aquáticos cercados por terra. Essa espécie não ocorre em ambientes permanentes, como rios e riachos”. Por isso, a capacidade de sobrevivência é baixa.

A área não tinha sido ainda estudada por pesquisadores para levantamento de fauna, em especial de espécies de peixes. “A gente teve a sorte de achar essa espécie na bacia do médio Rio Camaquã, que é pouco estudada, embora seja muito degradada”, relatou Volcan.

O projeto Peixes Anuais do Pampa foi iniciado em 2011 pelo IPPampa, para busca de espécies e áreas novas, patrocinado pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. A descoberta foi descrita oficialmente em outubro passado na Revista Internacional de Ictiologia Aqua, dedicada a estudos e pesquisas sobre peixes. Segundo o pesquisador, outras quatro espécies estão em processo de descrição.

Volcan explicou que a nova espécie tem um ciclo de vida relacionado com a seca do ambiente. Os peixes vivem em poças de profundidade máxima de 60 centímetros, em áreas campestres, o que os deixa isolados. Quando o casal atinge a maturidade sexual, os peixes depositam os ovos no lodo. “E quando o charco seca, todos os adultos morrem. Os ovos ficam vivos no substrato para o seu desenvolvimento embrionário. Se o ambiente não secar, este é o maior problema para esta espécie, porque pode afetar o desenvolvimento embrionário”, explicou.

No ano seguinte, quando as novas chuvas começam e alagam o local, os ovos se abrem e surge novo ciclo de vida. Não há sobreposição de geração, acrescentou Volcan. Daí a espécie ser conhecida como peixes anuais ou sazonais.

Matheus Volcan salientou a importância da descoberta porque, embora sejam peixes pequenos, eles têm um perfil ecológico. Ou seja, eles controlam a biodiversidade dessas áreas. “Eles comem todas as larvas de mosquitos, os microcrustáceos dentro dessas poças. Eles têm papel importante para o equilíbrio ecológico das áreas úmidas, que são ambientes associados a rios e lagoas. Este tipo de ambiente é o mais ameaçado do planeta”.

De acordo com o pesquisador, a ameaça de extinção está relacionada à perda de habitats. Toda a área onde ocorreu a descoberta está degradada, devido às plantações de arroz, soja e trigo. “A espécie está restrita a uma área de apenas um hectare”. Ela está completamente isolada, e tem uma matriz, no seu entorno, dominada por lavouras, disse.

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