terça-feira, 4 de agosto de 2015

'Para os outros, é a Katielly. Mas será sempre o nosso pai', diz catarinense

Katielly Lanzini, no centro, faz questão de ser chamada de pai pelas filhas Lisandra (à esquerda) e Lisiane (Foto: Arquivo Pessoal)

Lisandra Lanzini tinha 6 anos quando acordou antes da hora e viu pela primeira vez o pai se maquiando no espelho do banheiro, usando roupas de mulher. “É carnaval”, explicou a mãe. A irmã mais nova, Lisiane, nem tem memória do pai usando roupas masculinas. Hoje, com 33 e 29 anos, as duas catarinenses falam que sempre viram com naturalidade a transexualidade do pai. “Para as outras pessoas, é a Katielly. Mas para nós, sempre será o nosso pai”, diz Lisiane.
Talvez naquele dia nem fosse carnaval, mas Lisandra se lembra dos bailes de São Miguel do Oeste, cidade catarinense onde a família vivia nos anos 80, e de como o pai ficava alegre quando ia a uma tradicional festa em que homens e mulheres invertiam as roupas. “Para mim sempre foi mais importante vê-lo realizado. Nas vezes em que ele tentou não ser assim, a gente viu que ficou infeliz”, conta Lisandra.
Com o tempo, Katielly colocou silicone, afinou o nariz e fez um tratamento hormonal para ficar mais feminina. Em Chapecó, onde Katielly e a filha mais velha vivem, a família garante que nunca sofreu preconceito. Katielly é uma pessoa bastante conhecida na cidade – escultora, chargista, jornalista e carnavalesca são só algumas das facetas dela.
“Dela”, sim, porque Katielly - que deixou no passado o nome masculino de batismo - se reconhece como mulher, apesar de ter nascido no corpo de um homem. “Mas prefiro que meus filhos me chamem de pai”, observa.
'Gosto de mulher'
Muitas pessoas ainda se espantam quando descobrem que Katielly, apesar da aparência, continua gostando de mulheres.

“Eu me considero uma lésbica. Só gosto de mulher e tenho quatro filhos [além das duas mais velhas, Katielly tem mais dois meninos que foram criados pela primeira mulher]. Minha ex sabia de tudo e aceitava numa boa. Minha atual é maravilhosa e me aceita como sou”, diz Katielly, de 54 anos.

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